quarta-feira, agosto 02, 2006

obrigado

Há pessoas que são verdadeiramente excepcionais.

Uma dessas pessoas é o meu antigo professor de História dos Pupilos, o professor Camejo, ao qual chamávamos carinhosamente de "careca". Que pessoa fantástica!!

Lembro-me que as suas aulas eram fáceis de seguir, a maneira como ensinava chamava a atenção até dos alunos com mais dificuldades na disciplina, eram 50 minutos realmente aliciantes. Lembro-me de numa das suas primeiras aulas se por de pé em cima da mesa, para nos explicar de como altas eram as torres góticas feitas nos tempos de Aljubarrota.
Lembro-me dos seus conselhos nas aulas de estudo, especialmente um em particular, uma vez virou-se para mim e disse: eu consigo ver que estás triste, não me tentes esconder isso e não penses nessas tristezas; o que eu costumo fazer é pegar num livro e por-me a ler, a ler, sem parar, procurando tirar o meu pensamento das coisas más; vê se fazes o mesmo.
Lembro-me que foi das primeiras pessoas que me mostrou que era possível apaixonar-se por uma escola, por uma casa.
Lembro-me que foi com ele que me interessei por história, foi ele que me deu conta da tragédia do holocausto e, pela primeira vez nos Pupilos, os meus testes nunca baixaram da classificação de 90.
Lembro-me da maneira como se preocupava com a minha situação, da maneira como eu via nele um pai, e das piadas fáceis que eu fazia de cada vez que ele me pedia para dar cumprimentos à minha mãe.
Lembro-me de lhe entregar alguns textos para a revista dos Pupilos, e da maneira como andava sempre atrás de mim a perguntar: vê lá se escreves mais qualquer coisa, tu tens tanto jeito, vá lá..
Foi por causa dele que eu tive o orgulho de fazer teatro, e ainda hoje sei de cor os versos e os gestos que tinha de dizer e de fazer: "Deus quer, o Homem sonha, a obra nasce. Deus quis que a terra fosse toda una, que o mar unisse, ja não separasse.. Sagrou-te, e foste desvendando a espuma, e a orla branca foi de ilha em continente, clareou, correndo, até ao fim do mundo, e viu-se a terra inteira, de repente, surgir, redonda, de um azul profundo."
Tenho um grande orgulho em ter sido seu aluno.
Ele foi, sem dúvida, o melhor professor que tive na minha vida académica.
Há tantas outras histórias mas, como vocês imaginam, não caberiam todas aqui e, por isso, hei-de guardá-las pra sempre comigo.


No dia 18 de Julho foi publicada no jornal "Público" uma carta da autoria do meu professor, a qual transcrevo aqui na íntegra:

"

Ainda a propósito da “morte anunciada” do Instituto Militar dos pupilos do Exército


“No próximo Ano Lectivo não haverá inscrições de Alunos para o 5º Ano, nem para o1º dos Cursos Superiores”.

Estas doutas palavras, da autoria do Senhor Director do nosso Instituto, põem em causa 95 anos de Instituição, já que, sem alunos, não há Escola.

“Não se pretende fechar esta Instituição, que tão boas provas tem dado à Pátria! Pretende-se, isso sim, remodelá-la, modernizá-la, adequá-la à realidade...” dizem outros, que do IMPE pouco parecem entender.

Mas, sejamos práticos!

Qual a razão porque, havendo cerca de duas dezenas de interessados, sem ter havido qualquer publicidade, se impede que nova gente haja?

Que autoridade tem o Senhor Director de não autorizar as inscrições?

Disse que se baseava num “despacho oral do senhor General Chefe do Estado Maior do Exército”.

O que é, e que peso tem, um “despacho oral”?

Despacho é algo que se entende se, aposto em documento, decidir qualquer coisa mas, ... há decisões que, se pouco ponderadas, fazem tremer o mais sólido bastião.

Permitam-me um jogo metafórico e imagine, respeitável leitor, que alguém dizia lá em casa ... “Não vai haver mais compras de fruta, leite e legumes até ao próximo ano!”.

Provavelmente a vossa Casa não fechava, mas não era boa a vossa saúde!

A actual Direcção da nossa Casa tem feito boa obra de organização e de gestão, tem pintado muros e paredes, melhorou-se a comida, responsabilizaram-se docentes e discentes, fez-se “trinta por uma linha”, mas boa tripulação não é a que bem sabe manobrar o belo navio, mas a que o leva a bom porto e quer que ele continue a navegar!

Tenho quase trinta anos de serviço, sou há catorze anos, docente do Instituto Militar dos Pupilos do Exército. A minha Escola-Mãe, a Secundária da Amadora, está a minutos de minha casa mas ... apaixonei-me pelo IMPE e sua memória colectiva.

Ainda recordo os meus primeiros tempos de docência neste Instituto.

Recordo a criança triste que, com saudade dos seus, olha o longe, esperando que a venham buscar. Reparo no aluno mais velho que, a seu lado, ternamente, a procura ajudar e a faz compreender que também por ele passaram momentos de saudade e que vale a pena esperar para sentir o amor e os valores que aqui lhe darão.

Lembro o momento mágico da imposição das “insígnias” aos alunos graduados e ouço, de imediato, a “jacarezada”, o grito de louvor e honra aos eleitos.

Vejo o brilho, no olhar dos meus alunos quando, lá fora, dizem ser “Pilões”.

Vejo a criança feita Homem, que me ensinou a ver melhor a importância dos valores que aprendeu a conhecer e que o fortaleceram e formaram: O espírito de corpo, a inter-ajuda, a solidariedade, a disciplina, o trabalho e o método, o Hino, o seu próprio lema de “QUERER É PODER”.

Mudaram-se os tempos e algumas vontades, mas os valores para a justiça e para as virtudes mantêm-se.

Por tudo o que atrás referi, porque meus Pais e Abril me ensinaram, achei não dever calar-me!


Francisco Pelejão Camejo

Professor de História "


Obrigado professor!!

1 comentário:

Marco disse...

É uma pessoa realmente superior.

O bom humor foi sempre uma caracteristica sua.

Trapy tás lá. Grande Post

O Camejo tá lá

"Olha ó lanche..."