quarta-feira, janeiro 26, 2005

Mas tu queres?

Quem ainda não sentiu, aquela pressão feita por quem tem jeitinho de perguntar coisas, muitas vezes disparatadas e sem lógica nenhuma.

Perguntas daquelas que enquanto tu ainda estás enfiado com os cornos na cama, já te perguntam: "Olha lá queres café com leite, ou com chocolate? Queres torradas ou umas madalenas?". Quando te levantas, já te perguntaram outra vez: "dormiste bem? Estás melhor da tua gripe?". Passado uns minutos de silêncio, olhas para o relógio e dizes: "Foda-se, já estou atrasado para mais um dia de merda" e antes de saíres de casa, pensando que te ias escapar a mais umas perguntazitas, lá vêm elas: "Não queres que te faça um farnel para levares? Olha que depois tens fome! Leva uma maça ou uma sandeszita com manteiga? Levas lenços, olha que estás constipado?".

Aqui e a esta hora da manhã só pensas em sair pela janela do teu apartamento no quinto andar em vez de saires pela porta.

Para ti o horário de trabalho é um paraíso onde só existem cabrões, fdp e nehuma "silly question".

Quando chegas da escola/trabalho com a sensação de mais um dia cumprido e com a cabeça á rotação do redline de uma R6, nem sabes o martírio que te espera. Entras em casa e a primeira cena que te dizem é: "Olá lindo, como correu o dia? Olha queres jantar o quê? Tenho uma sopinha, está óptima. Também posso fazer-te uma omelete com chouriço e queijo." Como se não bastasse comes que nem um animal e no fim ainda te pergunta: "Olha lá, mas tu queres um bocadinho de arroz com frango de ontem?" e em seguida vêm a pergunta da praxe: "já comeste fruta? Queres uma maça das vermelhas ou amarelas".
Quanto te refugias no teu quarto a ver um filme, pensando em acabar o dia na melhor maneira, lá vêm o senta cús do cinema a perguntar: "Está tudo bem? Mas tu queres alguma coisa, olha aqui um bolhinho daqueles de Azeitão, não queres? Tens frio? Queres mais um cobertor?" e com isto já passaram as cenas mais importantes do filme.

Sem dúvida a tua única reacção, é baixar a cabeça pondo as mãos nos ouvidos e neste preciso momento olhas mais uma vez para a janela como sendo ela a principal saída de tanto sofrimento.
Mas será possível um dia haver uma mãe que em vez destas perguntas tortuosas nos pergunte: "Olha, fui dar uma volta ao Batista-Russo e pensei em comprar um Porsche para ti, queres ou nem por isso?" ou então quando chegas a casa, ela diz-te: "Olha lá querido, queres que te compre um apartamento na Marina de Albufeira?" ou ainda "Queres uma viagem combinada a Cancun, Cuba e Républica Dominicana?" ou então perguntas do outro género: "Ó lindo, vou comprar-te um barquinho daqueles que tem 8 motores e andam a 500 nós de velocidade, queres?", "Olha filho, não sei se hei-de compra-te um bilhete de época no
camorate VIP do teu clube, que achas?", "Queres uma licenciatura? E um curso, não vai?", "Queres dois anos de férias filhote?, "Ó filho, por mim não fazes mais nada no resto da vida, alinhas ou não?".

Neste momento este post torna-se real. Acabam-me de fazer duas perguntas que passo a citar : "Já tomaste as vitaminas? Queres um iogurte ou um suminho de laranjas?". Quando dou por mim estou a olhar para a janela.

Ó mãe fica a consideração superior, ou não?

1 comentário:

Marco disse...

Pois... mães dessas todos temos.
O pior de tudo é que há pessoas que chamam a isso "amor de mãe"